No final dos anos 90, por uma década, atuei numa operadora de turismo de aventura com a atividade de rafting - descida de corredeiras em botes infláveis.
Sempre gostei muito e me identifiquei com essa turma de loucos que curte estar na natureza, sentir um frio na espinha e o prazer de chegar ao final do desafio com uma sensação de vitória. Além disso, essas pessoas costumam ser simples, leves e, talvez por passarem por alguns perrengues juntos, empáticas e muito comprometidas.
Durante o período em que estive na operação do rafting fiz inúmeras descidas de rio, vivenciei várias situações divertidas, angustiantes, preocupantes, excitantes e de muito aprendizado.
Acho que a principal delas é quando o bote tem pela frente uma onda - que é quando o rio apresenta um refluxo ao contrário do seu percurso e forma uma onda e um buraco na água . Nesse momento, o condutor orienta os integrantes do bote, antecipadamente, sobre o que vamos enfrentar e prepara o grupo para a situação de perigo, pois a onda que vem contra nós pode virar o bote e sair um para cada lado entre as fortes corredeiras.
É nesse momento que ele, o condutor, nos diz: vou precisar do grupo unido, remando junto e forte para atravessarmos esse percurso sem transtornos.
E então conferimos nossos equipamentos de segurança, firmamos nossos pés no fundo do bote, tomamos mais um fôlego e lá vamos nós, amedrontados, remando juntos ao som do nosso condutor que grita: FRENTE FORTE!
E, incrivelmente, quando já estamos com os braços cansados, arranjamos força e coordenadamente, seguimos remando frente forte rumo ao objetivo de transpor aquele obstáculo e conseguirmos vencer a tal onda assustadora. Ninguém sozinho nesse bote consegue ultrapassar a onda. Todos os participantes precisam dar a sua contribuição para que todos fiquem bem.
Faço essa comparação com o momento atual do Turismo. Logo no início da pandemia causada pela Covid-19, percebi muitos grupos de empresários do setor buscando seus pares, as entidades que os representam e soluções para os seus problemas - que eram os mesmos dos demais colegas seus.
Eu mesma fui convidada para trocar ideias com empresários de turismo de aventura no Paraná, no Maranhão, no Mato Grosso do Sul. Acompanhei o esforço de algumas entidades para proteger os seus associados que, ainda hoje sofrem com os Decretos de lockdowns e com as incertezas do amanhã.
Após um ano de cuidados e muito isolamento, já estamos exauridos.
Porém, quando estamos num grupo de pessoas que tem os mesmos valores, dores e interesses que os nossos é possível tomar aquele fôlego, ajeitar o equipamento de segurança, confiar no condutor e nos colegas para juntos, ultrapassarmos a onda.
Já passamos pela onda de 2020. Entramos em mais uma corredeira intensa e vem vindo mais uma onda daquelas.
Quem está na condução do seu bote? Quem são seus companheiros de remada? De que forma você vai contribuir com esse grupo?
Aja rápido, porque a onda está ali depois da próxima curva.
E só nos resta remar ainda mais FRENTE FORTE!