É difícil passar uma semana sem notícias com evoluções sobre os carros autônomos. Grandes marcas e empresas se aproximam, e newcomers como a Tesla de Elon Musk já valem mais que a centenária GM.
São anunciados acordos bilionários entre empresas como Uber e Volvo. Israel, um dos celeiros da inovação mundial, conta com 450 projetos ligados à mobilidade, em sua maioria criados nos últimos 3 anos. A meta da Storedot, junto com a coreana Samsung e a alemã Daimler, é desenvolver baterias que se carregam em 5 minutos. Nir Erez, cofounder e presidente da Moovit, estima que entre 2 e 5 bilhões de assentos em carros não são usados todos os dias. Empresas como Intel, Panasonic e Bosch tradicionais em outros setores não querem ficar fora do mercado dos carros autônomos. A era da mobilidade 2.0 está se desenhando.
Em termos de evolução dos veículos, já estamos na fase 3 de automação, a primeira fase onde o computador monitora o trânsito. A fase 4, é a de autonomia avançada (estimada para 2025) e a 5, para 2050 de autonomia total.
Parece claro que a questão de tecnologia já foi superada e resolvida. Os problemas no momento se referem às questões de segurança contra invasões hackers e a ética dos veículos.
Participando de um debate recente com algumas boas cabeças pensantes, tentei iniciar o desenho de exercícios de futurologia no que diz respeito aos impactos decorrentes dessas disrupções, especificamente às que dizem respeito aos impactos urbanos.
Eu e os colegas do grupo começamos o aquecimento dos motores (Expressão antiga essa! Elétricos não precisam esquentar!), com alguns números importantes: na atualidade, carros próprios passam a maioria do seu tempo parados e não andando. Se fala em 95% do tempo ocioso. Isso está fadado a desaparecer. Nasce o conceito do CaaS Car as a Service, e não mais como um bem, uma propriedade. É o chamado carro sob-demanda. Quais as consequências no espaço urbano? Chegamos a algumas delas que passo a explorar:
O menor volume de carros nas ruas vai fazer com que o sistema viário das grandes cidades seja aliviado ou até subutilizado. Os picos de congestionamento tendem a se reduzir. O que serão as curvas de demanda estimadas nos últimos anos para projetos e concessões de rodovias e estacionamentos comparadas à nova realidade que se desenha?
As garagens e estacionamentos tendem a ficar muito mais ociosos e a se extinguirem em alguns lugares. Se fala em redução de 50% nos próximos 30 anos. Talvez muitos condomínios tenham garagens muito reduzidas. Qual o futuro dos estacionamentos? Provavelmente virarem outros negócios, como por exemplo, concorrerem com as empresas de self-storage. A relação de preços entre os novos e os velhos produtos mudará bastante, segundo o SECOVI, Sindicato da Habitação de São Paulo.
As companhias seguradoras perderão alguma fatia de mercado. Seres humanos são péssimos motoristas: falam ao celular, teclam, fumam, mexem no som, se distraem. A sinistralidade deve diminuir já que 94% dos acidentes são provocados por falhas humanas. Haverá economia em serviços de socorro e hospitalares decorrentes da redução de acidentes.
Há uma tendência de redução de necessidade de galpões logísticos, já que a melhor eficiência no transporte deve fazer com que as mercadorias fiquem menos tempo paradas, e, portanto necessitem de menos áreas.
A indústria das multas, da regulamentação, dos impostos vai minguar as receitas dos municípios e dos estados. Só as multas, significam R$ 2 Bi anuais em São Paulo.
Os bens (e as pessoas!) poderão viajar mais, e, portanto irem e virem de longe/para longe. Será possível entender um movimento de desurbanização?
As cidades devem ficar menos poluídas pela redução de descargas na atmosfera.
Quantos serão os postos de gasolina a serem fechados? As oficinas? As lojas de peças? As auto-escolas? As concessionárias e lojas? As locadoras de veículos? Ou seja, toda a cadeia pendurada no modelo antigo? Teremos postos de recarga nas ruas?
Ruas e avenidas poderão ser fechadas, criando esplanadas, calçadões, praças, parques lineares e outros ativos urbanos que os colegas urbanistas, nem em seus melhores sonhos, imaginariam. Ótima ideia seria retomar a cidade mais permeável reduzindo as ilhas de calor. Neste quesito (e em todos mais), Barcelona está bem na nossa frente.
A quantidade enorme de sensores da chamada IoT a Internet das coisas e câmeras de alta definição vai gerar um número de dados astronômico a cada segundo. Alguns exemplos básicos: de pressão e temperatura em cada ponto, pessoas nas ruas, o nível de ruído, etc. A privacidade morreu faz tempo. A segurança das pessoas deve aumentar.
As pessoas passarão a ter mais tempo livre em seus deslocamentos. Isso não gera um impacto direto nas cidades, mas sim em seus habitantes. Esse tempo poderá ser utilizado para leitura, dormir, participar de reuniões à distância, estudar, ouvir música e assistir filmes, dentre outras tantas possibilidades.
E os empregos dos motoristas? Nos EUA se falam em 3 milhões de baixas, segundo a Green Street Advisors. Pensamos também um pouco na convivência dos autônomos, com os motoboys (eles existirão?), drones e carrinhos não-tripulados da Amazon.
Alguém se arrisca a sugerir o que fazer com algumas das 10 pistas das Marginais Pinheiros e Tietê paulistanas? Nós ainda não.
Engenheiro Civil formado pela Escola Politécnica da USP em 1993, com especialização em negócios pela ESPM e pela Fundação Dom Cabral, com passagens em áreas comerciais, de Marketing e Inovação ao longo dos últimos 25 anos, de empresas, como Ulma, Mills-Solaris, Tecnogera, LafargeHolcim e HTB - Hochtief do Brasil.Ex-CEO da ConstruLiga.
Head de Operações da ABRASFE, Sócio-Diretor da TEXTA CONSULTANCY & BUSINESS DEVELOPMENT, Blogueiro, Palestrante, Mentor / Investidor de Startups e Business Advisor da POTATO VALLEY VENTURES.