Conversando com um colega meu que tem larga experiência no setor avícola, ele me contava como muitas das soluções que eram implementadas no abatedouro de aves em que atuava nos anos 70, hoje seriam consideradas completamente amadoras. Mas aqueles eram outros tempos: produção menor, poucos concorrentes, falta de regulamentação e consumidor desinformado e desprotegido. Hoje para quem tem um negócio no setor alimentício, a situação mudou muito, pois tem que enfrentar produtos concorrentes, produtos substitutos, mudanças na legislação de alimentos, a pressão dos grandes varejistas e um consumidor cada vez mais informado e exigente. No dia-a-dia, isso gera um grande desgaste pois, além da necessidade de administrar o seu negócio, o micro e pequeno empresário do ramo precisam cuidar de uma série de aspectos técnicos específicos, para os quais muitos não tem conhecimento.
Em geral, muitas empresas do setor começam na cozinha das casas, a partir de uma receita familiar ou de alguma habilidade culinária. Em muitos casos, somente quando essa cozinha fica pequena, é que o empreendedor migra pra formalidade e aí começa a se deparar com algumas dificuldades, dentre elas, a falta de conhecimento técnico adequado pra lidar com as exigências de uma empresa formalizada e com uma produção de alimentos em maior escala. É muito comum, por exemplo, se deparar com produtos que estão se deteriorando, ou que apresentam mudança no aspecto visual.
E diante de determinados problemas, nem sempre o microempreendedor sabe a quem recorrer.
Diversos são os profissionais habilitados para trabalhar no segmento de alimentação, como engenheiros de alimentos, tecnólogos em alimentos, nutricionistas, tecnólogos em agroindústria, médicos veterinários, engenheiros químicos, agrônomos. Dependendo do problema, existem outros profissionais que também podem contribuir como biólogos e farmacêuticos, e para alguns casos bem específicos, existem os profissionais especializados como é o caso dos enólogos para vinhos. Uma alternativa para as microempresas é a contratação de tais profissionais, como funcionários ou através de consultorias. Mas a vida do microempreendedor nem sempre é fácil, e o bolso às vezes, é pequeno. E sem recursos, a contratação fica como um sonho distante.
Uma das alternativas pouco exploradas por microempreendedores é o contato com as universidades, que pode se tornar uma excelente alternativa na solução de pequenos a grandes problemas. Para isso, em primeiro lugar é preciso pesquisar quais instituições oferecem cursos relacionados com a área de alimentos e que formam os profissionais listados acima.
A primeira alternativa que uma universidade oferece é a contratação dos serviços que um professor consultor pode oferecer.
Alguns mestres e doutores, por seu conhecimento aprofundado, podem encontrar soluções especializadas para aquilo que você está precisando. Dependendo da complexidade, a solução pode vir por meio de uma orientação técnica, que pode até mesmo ser gratuita, ou através de uma consultoria personalizada que em geral, envolve custo.
Mas existem outras opções e uma delas é a contratação de estagiários. O estagiário não é um funcionário, pois o objetivo do estágio e complementar a formação profissional do estudante, mas se bem planejada pela empresa, pode ser uma ótima opção. Um estagiário interessado aprende com a empresa e pode trazer o conhecimento e a experiência dos seus professores universitários para dentro do seu negócio, pois todo estagiário tem como orientador um professor. Isso permite com que diferentes soluções possam ser encontradas. Essa opção é ótima quando se deseja resolver algo pontual, por exemplo, encontra meios de reduzir perdas no processo de fabricação. Não são poucas as experiências de estagiários que acabam sendo contratados pela qualidade do serviço apresentado. Estágios podem ou não ser remunerados.
Outra solução é abrir a sua empresa para a elaboração de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) ou até mesmo projetos de mestrado e doutorado. Nesses dois últimos casos seriam situações onde a solução demanda uma pesquisa científica mais elaborada para encontrar a solução desejada. Como professor, já orientei diversos TCCs dentro de empresas onde foi possível encontrar respostas adequadas para problemas reais, como implantação de Boas Práticas e até estudos de vida-de-prateleira de produtos. As instituições normalmente tem mecanismos que garantem sigilo sobre dados que a empresa prefere não divulgar.
Para quem quer busca capacitação para si ou para seus funcionários, a universidade também é uma opção.
Algumas delas organizam calendários de cursos de extensão e pode ser, que um deles, seja exatamente o que procura. Fazer cursos é momento de encontrar pessoas, pesquisadores, professores, outros empresários, e assim se aumenta a rede de contato, o que é ótimo para qualquer negócio.
E por fim, temos as empresas júnior. Essas empresas funcionam dentro das universidades e são compostas por alunos orientados por professores ou tutores. Prestam consultorias em diferentes áreas com valores mais acessíveis dos que praticados pelas consultorias privadas. Na cidade de Londrina (PR), há uma experiência semelhante no Núcleo de Extensão Tecnológica em Alimentos (NExTAL) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná que oferece consultoria na área, inclusive com alguns serviços gratuitos. Para quem quer conhecer os serviços ofertados, basta acessar o site https://nextal-ld.wixsite.com/nextal-ld . O Núcleo também é responsável pela produção de podcast Alimento é o meu negócio que traz toda quarta feira, informação sobre gestão e tecnologia de alimentos (https://radiopublic.com/alimento-o-meu-negcio-G4M2l1).
Como apresentado, são várias as alternativas e estabelecer o primeiro contato é a etapa inicial. Cada instituição tem suas regras e forma de trabalhar, mas é bem provável que você vá encontrar, portas abertas. O que não dá, é ficar parado!