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Ponkan de Cerro Azul

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Ponkan de Cerro Azul
Criado em 30 OUT. 2024
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A escolinha, rural, ficava a quase dois quilômetros do sítio de Adenilson e Neuzeli, pais de cinco filhos. Os meninos faziam uma caminhada de ida e, outra, de volta, todos os dias. Para os irmãos Agilson, Adrielson, Agilcineia, Jucimara e Agilcelaine França, parecia bem mais. É que, sob o ponto de vista das crianças pequenas, em fase de ensino fundamental - as pernas ainda uns gambitos, como se fossem cabritos - o mundo é, sempre, muito maior. Aos olhos deles, tudo é curiosidade, descoberta, deslumbramento. Além disso, os irmãos França precisavam dar umas paradas e se protegerem do sol forte que aquece os dias na zona rural da cidadezinha de Cerro Azul, interior do Paraná. A saída era buscarem as sombras das árvores. Por isso, entre brincadeiras infantis e a obrigação de não se atrasarem para a escolinha, eles se embrenhavam nos ponkanzais que se espalham pelas propriedades ao longo do caminho. Entre abril e julho, as ponkans infestam os pés. Para eles, era como se as frutas caíssem do céu. Vinham doces e suculentas como não seriam encontradas em nenhum outro lugar. As crianças, naturalmente, se fartavam. “Chegávamos cheirando ao sumo da ponkan que íamos chupando no caminho”. Quem resgatou estas memórias foi o irmão mais velho, Agilson, prestes a completar trinta anos.


Agilson nasceu no sítio do pai. “Desde que me senti por gente, já havia a ponkan”. Ainda tinha nove anos e, quando não estava na escola, grudava no pai, Adenilson do Carmo França. Um tico de gente, companheiro desde cedo, ajudava o pai na roça. Estudou até a quarta série no campo e foi concluir o ensino médio em Cerro Azul, “no centro da cidade”. A distância crescia junto com o menino e ele tinha que enfrentar quatro quilômetros até o colégio. Por sorte, a Kombi o apanhava na estradinha de chão, a duzentos metros do sítio. 


O Fruto Que Não Cai Longe do Pé



Já naquela época, Seu Adenilson plantava feijão, milho e verdura para consumo da família. Além disto, cultivava mudas de ponkan, mandioca e caqui, mas estes para vender. O Agilson seguia ajudando o pai na roça, mas cultivava uma ambição junto com as mudas de ponkan: quando sobrasse dinheiro, queria que o pai comprasse um sítio para ele. O sonho de menino se realizou e, quando tinha dezesseis ou dezessete anos, ganhou um sítio do pai. “Lembro que eu estava no colégio, no centro de Cerro Azul, quando o pai entrou com uns papéis para eu assinar”, recorda Agilson. São quase cinco hectares e meio, um pouco mais de dois alqueires. Ali, planta ponkan, mandioca e banana. Solteiro, segue morando com os pais no sítio onde cresceu, vizinho ao dele. 


Vida de Produtor de Ponkan


O tique-taque no campo segue um compasso diferente da cidade grande. São outros os fatores que guiam o tempo do agricultor: Estações do ano, temporadas de chuva, de seca, do calor e do frio. O homem da roça mira o olhar para o céu e para a lavoura bem mais amiúde do que para os ponteiros do relógio de pulso. Perguntado – por Whatsapp – que horas poderia dar uma entrevista, o Agilson foi espontâneo como o menino dentro dele: “Quando eu terminar de roçar”. Chegada a hora, enviou uma mensagem: “Vou subir na lomba, lá em cima o sinal da operadora é melhor. Pode me chamar daqui a pouco.”


Perguntado sobre a rotina dele, respondeu que, na semana passada, adubou e limpou mudas de ponkan no jacá, que é a embalagem que envolve a muda. Esta semana vem roçando o ponkanzal. Ele cuida de, aproximadamente, três mil pés de ponkan. Contou, também, que vai três vezes por semana a Cerro Azul, para as reuniões do Sebrae ou da Cresol. Quando não vai, fica carpindo no campo. 


Quanto aos 365 dias do ano, o cálculo surge naturalmente, em forma de ciclo da ponkan. Na região de Cerro Azul, toda a lida é feita de forma artesanal, numa espécie de sintonia fina com a mãe natureza. Do alto da lomba, com casais de Jõao de Barro e bandos de bem-te-vi fazendo uma espécie de sinfonia ao fundo, o Agilson descreveu tudo: disse que a ponkan começa, na verdade, na semente do limão rosa. Primeiro, o limão é colhido e colocado numa caixa. Ele prefere separar as sementes pisoteando os limões. “O suco é dispensado.” – garantiu o produtor. Separadas as sementes, são colocadas no pano e vão para secar no vento. “Sol direto queima as sementinhas”, esclareceu. Secas, são plantadas no tubete. Em trinta dias, nasce a muda. Mais noventa dias, ela chega a vinte centímetros, quando é transplantada do tubete para o jacá. Ali permanece em torno de um ano, quando é o momento de ser enxertada na ponkan. Mais um ano e a muda está com quarenta a sessenta centímetros. É hora de ser retirada do jacá e plantada no pomar. Serão mais dois a três anos de cuidados até que as frutas estejam prontas para serem colhidas, sempre entre abril e junho. Fecha um ciclo total de quatro a cinco anos, entre o início do cultivo e a colheita. Um pé de ponkan no chão de barro - que se verifica na região de Cerro Azul - aguenta entre quinze e vinte anos. 

 

O Comércio da Ponkan


Como já cuida do ciclo completo, vender mudas artesanais para os vizinhos tornou-se mais uma fonte de renda para o produtor Agilson França. Mas, haveria como abreviar o tempo do ciclo? Sim, em um ano nas etapas antes de irem para o pomar, se as mudas fossem cultivadas em estufas. Mas o processo é oneroso para os produtores da região, que seguem mantendo o método artesanal. 


O Agilson é um pequeno produtor. Ele colhe em torno de cem caixas por dia, quando é a época. As ponkans são vendidas direto para a cooperativa e para revendedores. O papel deles é organizar os produtores pequenos para encherem os caminhões, que chegam a comportar cerca de oitocentas caixas. As cargas vão para São Paulo, Santa Catarina, Londrina, Maringá e Curitiba. 


Em 2023, a produção foi 40% menor, por causa da chuva. A lei da oferta e da procura acabou gerando mais receita para o produtor, porque o preço aumentou bastante em relação ao ano anterior. Segundo o Agilson, em 2022 a caixa de ponkan foi vendida a quatorze reais. Em 2023, chegou a 35 reais.


Ponkan de Cerro Azul


Todo este trato artesanal, somado ao relevo montanhoso e ao clima de dias quentes e noites de temperaturas mais amenas, certamente contribui para uma ponkan mais suculenta e mais adocicada, sem ser enjoativa. “Cerro Azul é o lugar que foi feito para produzir ponkan”, conclui o nosso filósofo, cientista dos ponkanzais, Agilson França. 


Indicação Geográfica


A Ponkan de Cerro Azul foi  depositada no INPI e, em breve, tornar-se-á uma Indicação de procedência. Participam Sebrae, Prefeitura Municipal de Cerro Azul, Emater, IDR e Associação Vale da Ponkan, com apoio do Cresol.

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