O filme Padman (Homem-absorvente), dirigido por R. Balki, conta a história de Arunachalam Muruganantham (apelidado de Lakshmi), um jovem rapaz indiano, funcionário em uma oficina de soldagem, que, inconformado com a cultura do País e os rituais que as mulheres indianas se submetiam durante o período menstrual, decide produzir absorventes descartáveis de baixo custo.
No início do filme, Lakshmi se casa com Gayatri e vê de perto o tabu e os rituais da menstruação em seu País. Para ilustrar, toda mulher que esteja no período menstrual é afastada de todas as atividades e do convívio social – ela fica trancada em um cômodo da casa onde nenhuma outra pessoa é permitida a entrar, pois a cultura considera que o sangue menstrual é impuro, portanto ela não deve ser tocada e nem vista por outras pessoas. Diante dessa cultura, as mulheres indianas não possuem igualdade no mercado de trabalho e sequer falam do assunto, pois a vergonha que sentem é tão grande, maior que sua própria honra.
Quando Lakshmi vê sua esposa utilizando panos sujos durante o período menstrual, ele se sente tão incomodado que rapidamente vai até a farmácia da aldeia para comprar um pacote de absorventes descartáveis. O que ele jamais esperava é que o produto fosse tão caro, que a sua própria esposa se recusaria a usar, por se tratar de um artigo de luxo.
Lakshmi conversa com um médico da aldeia, que comenta a ele de que são poucas as mulheres que tem acesso ao absorvente descartável e que muitas delas apelam para panos, papel, folha de plantas e, até mesmo, cinzas, e que esses materiais podem contribuir no aparecimento de doenças e infecções graves.
Pensando na saúde de sua esposa e nas demais mulheres de seu País, Lakshmi decide criar o seu próprio absorvente feminino. Os primeiros protótipos não funcionaram e, em pouco tempo, Lakshmi começou a entender de que o produto é muito mais do que uma porção de algodão envolta em tecido, ele precisava absorver o sangue mas sem manchar as roupas de quem está usando.
Ao fazer novas adaptações no produto, ele passou a ter uma nova dificuldade: nenhuma mulher de seu convívio social e familiar queria testar, o que o fez tomar a decisão de ele próprio testar o absorvente. Ao falhar o teste em público, ele e sua família são humilhados e Lakshmi decide abandonar a aldeia e só voltaria quando obtivesse sucesso em sua criação.
Na nova aldeia, Lakshmi, que estava trabalhando na casa de um professor, descobre que o absorvente descartável não é composto de algodão e, sim, de fibra de celulose (que possui maior capacidade de absorção) e que a fabricação do absorvente possuía diferentes etapas.
Lakshmi decide, então, criar a sua própria máquina (que seria composta por 4 equipamentos, onde cada um realizaria uma etapa), fazendo com que a fabricação do absorvente tivesse um custo menor ao das grandes indústrias.
A invenção dele funcionou e ele conseguiu criar o absorvente ideal. Mas, de que adiantava ter o produto e não ter o cliente para experimentar? Foi aí que Lakshmi cruzou caminho com Pari, uma artista ambulante que estava na aldeia realizando algumas apresentações musicais. Pari viu a invenção do Lakshmi com os próprios olhos e o incentivou a participar de uma competição de inventores, que premiaria a invenção de maior impacto social e ambiental, o qual Lakshmi venceu.
Apesar do reconhecimento, Lakshmi continuou sendo humilhado em sua aldeia e percebeu que ele jamais conseguiria convencer as mulheres a usarem o absorvente e pede ajuda à Pari, que encheu uma bolsa com os absorventes e saiu vender de porta a porta. Para sua surpresa, todas as mulheres compraram os absorventes e a diferença principal foi o processo de venda. As mulheres queriam ser atendidas por outras mulheres. Lakshmi viu que, além do processo de venda, a fabricação dos absorventes também poderia ser feita por mulheres e isso faria com que elas tivessem mais segurança ao vender e tivessem a oportunidade de trabalhar e ter sua própria fonte de renda. A ideia deu tão certo, que várias aldeias e outros países pobres também queriam implantar pequenas fábricas de absorventes femininos.
Lakshmi teve reconhecimento pela ONU, pois sua invenção era tão mais barata e poderia viabilizar o absorvente para mulheres de todas as classes sociais (visto que em 2001, período retratado no filme, somente 12% das mulheres indianas usavam absorventes descartáveis devido ao alto custo). Depois de inúmeras tentativas e erros, Lakshmi é aceito de volta em sua aldeia, onde ele consegue sensibilizar o uso dos absorventes, para promover mais saúde, segurança e empoderamento às mulheres, que agora poderiam circular nas ruas sem se preocupar.
No filme, podemos tirar algumas lições de empreendedorismo, as quais citarei cinco. Primeiro, que o empreendedorismo com propósito pode transformar as pessoas e a comunidade. Segundo, que a vida de um empreendedor e gestor é cheia de obstáculos e que é preciso ter resiliência no processo. Terceiro, que não adianta ter um produto/serviço de qualidade se o seu cliente não reconhece o seu valor. Quarto, que para o seu cliente desejar o seu produto/serviço, você precisa de uma equipe de vendas que conheça o seu propósito, que esteja engajada nos processos e que tenha habilidades para criar conexão com o seu público-alvo.