Em sua brilhante palestra, o filósofo Mario Sergio Cortella nos leva a uma reflexão: Estaríamos na era da despamonhalização? Em uma sábia analogia onde o processo de se fazer aquele provincial doce de milho, a pamonha, que envolvia acordar cedo para colher o milho até o limiar do final do dia aonde depois de todo um laborioso processo de trabalho e acima de tudo convivência, chegava-se ao produto final. Hoje se compra pronta na porta de casa.
O mérito não se encontra entre divagar entre o certo e errado, mas chamar a atenção para a perda da capacidade da sociedade em refletir e reconhecer que mesmo um simples produto comprado rapidamente em um fast-food existe porque atrás houve todo um processo que levou tempo, trabalho e comprometimento de outro indivíduo.
Jogando essa visão para o ensino, atente como é encarado hoje o ensino superior no Brasil, o ensino é visto como um produto se estudamos em uma instituição particular nosso jargão é estamos pagando se em uma pública é pagamos impostos por isso, ótimo, conhecemos nossos direitos.
Mas sejamos sábios e se formos prepotentes para um dia dizer isso que tenhamos consciência que estamos pagando, por um processo e não por um produto.
Qual a diferença? Toda. Um processo é um método, conjunto sequencial e peculiar de ações para determinado fim, ao comprarmos ensino não compramos conhecimento, mas sim um meio pelo qual podemos de acordo com nossa competência alcançar um limiar de conhecimento que o mercado de trabalho exige.
Tenho a experiência de ter transitado em curto espaço de tempo dos bancos de alunos para a bancada de professor, essa ampliação de horizonte me permite hoje dizer que é preocupante a ânsia do aluno em esperar que ao fazer um curso superior, seja qual for, isso lhe garantirá estabilidade no mercado de trabalho, sem se preocupar com a sua participação nesse processo. Um processo, para que atinja seu fim, no nosso caso conhecimento em determinada área, exige uma entrada para ter uma saída, essa entrada nada mais é do que nosso comprometimento que muitas vezes deixamos de dar.
A outra faceta do imediatismo nos remete a busca desenfreada por respostas prontas, quem de nós nunca quis uma resposta sem nem ao menos entender a pergunta? Estamos perigosamente nos afastando do maior questionador da história, Sócrates que através de suas dúvidas era levado a experimentações, a indagações, a constatações, a novas perquirições, formando, dessa maneira, um imenso círculo-vicioso, que realimentava continuamente o processo.
Precisamos o quanto antes aprender a perguntar antes de responder.
Milhares de alunos frequentam universidades todos os dias e anseiam saber as respostas das provas, mas quantos buscam saber que novas perguntas podem ser feitas? O mercado não vai te fazer as perguntas da prova, seu empregador não vai te dar pontos no salário pelo trabalho que você fez em sala, mas o mundo vai te dar perguntas, você esta comprometido com o seu processo?
Educação não significa tirar diplomas de perícia em comércio, em mineração, em botânica, em jornalismo, ou epistemologia; significa, através da absorção da herança moral, intelectual e estética da raça humana, alcançarmos o controle tanto de nós mesmos como do mundo exterior; significa escolhermos o melhor como o associado do nosso corpo e do nosso espírito; significa aprendermos a adicionar a cortesia à cultura, a sabedoria ao conhecimento e a indulgência à compreensão. Quando produzirão nossos colégios homens assim?. Will Durant.
Prof. Adm . Bruno Oliveira