Na minha adolescência, fazia teatro amador. Era apaixonado pelo universo das artes, som, música, cenários e fantasias. Logo cedo aprendi a contar histórias e brinquei pelos palcos aqui e ali, emocionando ou fazendo rir.
Minha realização vinha mesmo quando eu tinha de montar uma peça, dando vazão à criatividade e preparando tudo pra arrancar aplausos da plateia. A gente cresce, e as prioridades mudam.
Mas o ensinamento do mundo do teatro a gente carrega junto pra toda vida. Grata surpresa tive quando me deparei, em 2001, com a obra de Pine e Gilmore identificando o paradigma econômico que revolucionaria o novo milênio. Escolheram para seu livro o nome Economia da Experiência: o trabalho é um teatro & todo negócio um palco![i].
Foi como reviver os palcos, só que agora trazendo as luzes da ribalta para o mundo dos negócios por meio da consultoria em marketing de experiências.
Em sua obra os autores afirmam que o sucesso do mundo dos negócios depende não apenas dos pilares de eras econômicas anteriores, tais como produção em série, domínio da logística, excelência dos serviços com uso de tecnologia da informação e valores intangíveis. A capacidade artística do empreendimento é que será o novo diferencial dos negócios no novo milênio.
As analogias com o mundo do teatro permitem à empresa identificar seu posicionamento de mercado de forma autêntica para alcançar seu público-alvo:
A História ou Enredo
Assim como em uma peça teatral, tudo começa pela trama da empresa a qual precisa ser bem contada para envolver a plateia de clientes. Técnicas de storytelling precisam estar sob domínio do empreendedor ao preparar a jornada do cliente e a experiência de consumo.
O Palco
É o local onde toda a história é contada. Corresponde ao ambiente da empresa acessível ao cliente e que deve ter sido muito bem preparado antes de sua chegada. Se o banheiro é para o cliente, nada de guardar o balde e rodo atrás da porta, viu?
A Peça em Cartaz
Num mesmo palco, várias peças de teatro podem ser contadas, não é mesmo? Na analogia os produtos de uma empresa ou seus setores representam muito bem as peças em cartaz, ou seja, as coleções, os lançamentos, a oferta sazonal... a depender do sucesso de vendas e gosto do público poderão ser mantidos ou descontinuados. Só o que não pode é misturar as peças... cada uma no seu lugar, oferecida na hora certa.
A Estreia
Compreende as primeiras apresentações da Peça em Cartaz. Na empresa, a novidade de lançamentos, coleções e produtos diferenciados é capaz de causar burburinho entre o público-alvo e despertar o desejo de compra.
Os Anúncios
Uma peça teatral não atrai plateia se não for divulgada. Do mesmo modo, a empresa precisa fazer-se presente na mente do consumidor usando esforços de divulgação e comunicação. Onde está sua plateia? Como ela gostaria de saber sobre sua peça teatral? Quem pode influenciar o público a frequentar seu teatro?
A Bilheteria
Para assistir ao teatro é necessário um ingresso. A empresa também propõe um preço de bilheteria cujo valor depende do talento de seus artistas os colaboradores do cenário, do enredo e sua capacidade de entreter e surpreender, ou seja do conjunto da ópera. Já foi a uma peça de teatro que não valeu a pena? Voltaria? Indicaria? O mesmo ocorre com os clientes da empresa cujo teatro não foi bem preparado.
Os Bastidores
Atrás das coxias está o lugar de preparo dos atores antes de entrarem em cena, local de guarda de elementos do cenário e outras tantas muvucas. Na empresa, são os ambientes não acessíveis ao cliente. Só que, assim... não é por ser bastidor que pode estar bagunçado e virar algazarra, ok? É lugar de estar atento, à espera de entrar em cena!
O Cenário
Corresponde àquele conjunto de elementos visuais atrelados à trama e que auxiliam a contar a história. Para a empresa são os ambientes que foram cuidadosamente preparados com o uso de cores, texturas, mobiliário, iluminação geral, iluminação artística, todos integrados à temática da empresa e ajudando a entregar a trama.
O Elenco
É o conjunto de atores que atuam naquele teatro. A analogia traz a lição de que a peça não está completa se um ator falta, portanto, todos são importantes, quer sejam atores principais, coadjuvantes, com papéis especiais ou apenas figurantes. Assim como os atores, são os colaboradores os responsáveis por interagir com os clientes, entretendo-os e entregando-lhes o que vieram buscar.
O Figurino
É a fantasia dos atores, no caso, o uniforme dos colaboradores. Compreender o uniforme como uma fantasia ajuda o colaborador a entender que está num momento de atuação, encenando um personagem na peça teatral. Assim, consegue atuar de forma mais desinibida e levar com profissionalismo até mesmo situações difíceis, mantendo o seu controle emocional com outros colaboradores e clientes.
A Trilha Sonora
Compreende as músicas que ajudam a contar a história. A empresa também precisa ser criteriosa na escolha de sua playlist para ajudar a expressar o enredo. Portanto, veja se a playlist combina com cada ato do enredo. Nada de escolher a música pelo gosto do dono, hein!
O Script/Roteiro
É a sequência de falas e atos que devem ser seguidos para contar a história. Do mesmo modo a empresa precisa escrever seu script o que é feito ao definir ciclos de serviço, momentos de interação dos clientes com colaboradores, objetos e equipamentos da empresa. Cada interação é importante e está sendo avaliada pela plateia.
O Improviso
Às vezes, a fala escapa, o ator perde a deixa e tudo atravessa... aí, a capacidade de improviso demonstrará a versatilidade do artista. Isso também pode acontecer com os colaboradores na empresa os quais devem estar preparados para driblar situações que fogem do script performando até mesmo a função dos colegas em situações de falta ou deslize.
A Plateia
A plateia é composta por pessoas tidas como convidados a assistir à peça. As empresas também precisam adotar esta visão, posicionando os colaboradores como anfitriões que recebem o público que foi convidado a prestigiar a peça. Bem receber a plateia é
E aí, o que sua plateia está vendo quando as cortinas se abrem? Bora revisar o Teatro de sua Empresa?
[i] PINE, J. II; GILMORE, J. The Experience Economy: work is theatre and every business a stage. Boston: Harvard Business School Press, 1999. p. 25 tradução nossa.