O choro apavorado e ofegante da quase falência ao sucesso dos novos negócios
Em uma manhã do sol forte, logo que chegamos no escritório recebemos uma mensagem no celular de que um colega que há tempos não nos contatava, precisava conversar conosco, naquela manhã, com muita urgência. Marcamos a reunião para as 10 horas.
Preocupado com o pedido, fizemos os despachos iniciais no escritório e fomos para a reunião. Ao chegar lá, imediatamente fomos conduzidos para uma sala reservada, com uma mesa redonda ao centro, aonde um casal discutia sobre a situação financeira da empresa, estava em estado de choque. A esposa chorava muito e o marido, muito ofegante, até parecia que estava preste a ter um infarto, mesmo assim, entre uma respirada e outra, tentava responder as perguntas da esposa.
Nos apresentamos e pedimos que ficassem mais calmos. Nós precisávamos conversar para proporcionar um entendimento da gravidade da situação e identificar as possíveis soluções jurídicas e financeiras.
Passados uns cinco minutos, a esposa nos relatou que a empresa do marido estava devendo uns cinco milhões de reais e que eles não teriam como pagar e assim iriam perder tudo o que haviam construído durante anos de trabalho duro e o marido nunca disse nada para ela.
A partir daí pedimos a esposa que se acalmasse e passamos a ouvir o marido. Este relatou que devido aos problemas econômicos de 2014 e 2015 se viu obrigado a buscar crédito nos bancos. Coincidentemente no mesmo período, o faturamento da empresa caiu 50% dificultando o pagamento de tais créditos.
E a conversa foi se estendendo sobre diversos aspectos do problema. Quais bancos e fornecedores estavam devendo, se tinha dívida com agiotas ou não, como estava a questão fiscal. Se a folha de pagamento estava em dia, etc.
Depois de mais de três horas de conversa, com todos mais calmos, agendamos uma visita à empresa para o dia seguinte para ver documentos e estabelecermos uma estratégia de ação.
O empresário tinha três negócios. Sob nossa orientação, encerrou um deles, arrendou outro e investiu naquele com a maior margem de retorno.
Promovemos uma rodada de negociação com as instituições financeiras e fornecedores envolvidos. Aqueles que não negociaram, ajuizamos para preservar a defesa, mas continuamos com o processo de negociação.
Para preservar a integridade física do nosso cliente, procuramos os agiotas e realizamos uma rodada de negociação. O nosso cliente foi proibido de negociar com eles.
Todas as vezes que o empresário necessitava tomar uma decisão mais relevante sobre seus negócios, ele nos ligava e conversamos a respeito dos prós e contras daquele negócio. Era um papo descontraído, sem julgamentos ou análises mais profundas. Apenas um papo sobre negócios.
Em uma destas conversas, ele nos confidenciou que no dia da reunião, ele havia passado em casa, deixado sobre a escrivaninha suas apólices de seguro de vida. Conforme o resultado da reunião, ele iria sair de lá e se atirar no rio. O valor total das indenizações seria suficiente para quitar todas as dívidas.
Aí brincamos com ele. As seguradoras não pagam indenizações de seguro de vida em casos de suicídio. Não ia resolver nada. Você iria morrer e a dívida continuaria. Sua morte seria em vão.
Na atualidade seus negócios vão muito bem. As dívidas estão sob acompanhamento e aos poucos estão sendo pagas a vista com descontos que chegam até 90% do valor do débito.
– O elemento emocional ou psicológico
Pelo simples fato do empresário estar atravessando uma fase difícil em seu negócio, não significa dizer que ele é um incompetente. As crises devem ser encaradas como acidentes de percurso, como acidentes de vida. Assim elas podem ser provocadas pelo próprio empresário ou este ser vítima de uma situação em que foi envolvido sem perceber.
Todo empresário vive e sobrevive da sua iniciativa, da sua energia positiva e da crença de que o amanhã será melhor do que o hoje. Se ele perder estes três pilares, ficará tremendamente prejudicado para alavancar novos negócios e assim, comprometerá a continuidade das suas atividades empresariais.
Pensar diuturnamente no seu empreendimento comercial e as alternativas para aumentar o seu faturamento, é o seu objetivo maior.
Quando acontece o endividamento excessivo, o pensamento é deslocado do negócio para a dívida. É a partir daí que se inicia a derrocada do empresário. Ele já não consegue mais criar estratégias para a continuidade e o crescimento do seu empreendimento. A única coisa que ele pensa por vinte e quatro horas é na bendita dívida e como irá saldá-la.
De acordo com uma pesquisa realizada nos Estados Unidos, alguém que está lidando com elevando endividamento pode se tornar mais vulnerável a problemas de saúde. O estudo apontou que úlcera, depressão severa e até ataques cardíacos estão ligados ao endividamento.
Os profissionais que se encontram com alto endividamento tendem a ser mais estressados e o estresse está ligado a inúmeros problemas de saúde. A difícil situação econômica que o Brasil atravessa aumenta o custo de vida o que resulta em insatisfação e preocupação acima do nível suportado pela maioria das pessoas.
É longa a lista de doenças que podem ser desenvolvidas a partir de questões financeiras:
· Ansiedade;
· Problemas de sono;
· Úlceras e outros problemas no sistema digestivo;
· Dores de cabeça e tensão muscular estão relacionadas ao alto índice de estresse gerado pelo endividamento;
· Dificuldade para se concentrar;
· Alterações cardíacas;
· Baixa autoestima;
· Problemas para dormir;
· Depressão grave;
· Suicídio, etc.
Um estudo, publicado na revista americana Social Science and Medicine, oferece uma nova visão sobre como a dívida pode ter impacto sobre a saúde dos jovens. "Nós agora vivemos em uma economia alimentada pela dívida. Desde a década de 1980, a dívida das famílias americanas triplicou. É importante compreender as consequências para a saúde associados com o endividamento", afirma a autora da pesquisa Elizabeth Sweet.
Aqui no Brasil, o endividamento das família aumenta ano a ano, conforme demonstrado por várias pesquisas.
Os pesquisadores descobriram ainda que indivíduos com alto endividamento relataram níveis mais elevados de estresse percebido e de sintomas depressivos maiores. "Não esperávamos ver associações entre a dívida e a saúde física em pessoas que são tão jovens. Precisamos estar cientes desta associação e compreendê-la melhor. Nosso estudo é apenas uma primeira olhada em como a dívida pode afetar a saúde física", conclui Sweet.
Como se pode constatar, para aqueles com alto endividamento, sejam pessoas físicas ou empresas, a orientação é de que tratam da situação como se fosse uma doença. Deverão buscar um apoio profissional para solucionar o problema e, principalmente, cuidar da autoestima.
No caso dos empresários, estes deverão manter-se motivados no trabalho, acreditar na sua capacidade profissional e tomar iniciativas mais adequadas para lidar com o problema, porém devem evitar agir antes de planejar e estudar a situação.
Pois bem, o que o empresário deve fazer é deixar a dívida no seu patamar de importância, ou seja, abaixo da visão de continuidade e expansão dos negócios. Ele pode fazê-lo de forma personalizada, pessoal ou, se a pressão dos credores, em especial, dos bancos, for muito grande, buscar um profissional no mercado para negociar e gerenciar o seu endividamento.
É imprescindível, fundamental, de extrema
relevância que o empresário volte o seu foco, totalmente, para seus negócios. É
isso que ele sabe fazer com maestria. Se ele se concentrar somente nas dívidas,
não a resolverá e, ainda, perderá a sua capacidade de gerar novos e promissores
negócios.
“Se você não mudar suas crenças, sua vida ficará do mesmo jeito para sempre. Isso é uma boa notícia?”
Dr. Robert Anthony – palestrante e escritor
Livro: Endividamento Crítico.
Autor: Antonio Claudio da Silva