Quase dois anos após o primeiro lockdown no Brasil, ao que tudo indica, aqui estamos lidando com uma nova fase, talvez uma reta final ou talvez uma etapa de adaptação para um novo cenário.
Sem dúvidas este é o momento para fazermos um balanço geral:
O que mudou de lá para cá?
Como está o cenário atual?
O que já ficou ultrapassado?
E afinal, quais as tendências: o que esperar do mercado e dos consumidores nesse próximo ano?
Assim como em outros setores, o empreendedorismo foi bastante impactado pelo coronavírus. Como citado no artigo sobre Tributos e Finanças, sem poder tocar no dinheiro em espécie (ou melhor, sem poder higienizá-lo e desinfectá-lo), o público buscou meios para seguir realizando as transações comerciais com maior segurança. Com a crise econômica, também foi necessário modificar os hábitos de consumo. E a partir das medidas de distanciamento social, o mundo do trabalho virou de ponta-cabeça, precisando também se adaptar a novos formatos. O fechamento das creches e escolas foi um grande susto, em especial para as mulheres, que com a maternidade tendem a sofrer muito mais com jornadas duplas ou até triplas de trabalho.
Segundo uma pesquisa realizada pelo Nubank em parceria com o BID e o SEBRAE, entre as MEIs já estabelecidas com mais de 3 anos e meio de idade, 62% dos negócios administrados por mulheres foram fechados no período da pandemia. Além disso, em 2020, as MEIs lideradas por homens tiveram uma receita média 10% maior que os negócios liderados por mulheres, diferença que aumentou 23% em 2021 - evidenciando o crescimento da desigualdade entre gêneros neste período.
Ainda de acordo com a pesquisa, o BID estima que a igualdade de remuneração e oportunidades entre gêneros poderia representar um aumento potencial de 26% do PIB global anual. Ou seja, se tivéssemos um cenário de equidade, todos sairiam ganhando.
Mas para inspirar você, cara empreendedora, a continuar lutando por estas mudanças no mercado e no mundo, apresentamos a seguir alguns casos nacionais e internacionais de negócios que conseguiram se posicionar muito bem frente aos desafios dos últimos anos, e que por isso prometem suas retomadas ao "novo normal" como ótimas referências de negócios femininos.
É o caso da Gato sem Rabo, livraria fundada em maio de 2021 por Johanna Stein, na cidade de São Paulo. Mesmo em meio às dificuldades e restrições da pandemia, Johanna decidiu dar continuidade às suas ideias e abrir seu próprio negócio. A ex-modelo formada em artes visuais, porém, não ousou apenas em sua decisão de abrir um comércio no auge da pandemia: a livraria ainda é focada em comercializar apenas obras de mulheres, proposta pioneira no país.
"As mulheres sempre escreveram muito, sobre diversos assuntos, mas estavam condenadas a obrigações sociais que as mantinham longe da produção literária. Nós conquistamos mais espaço, mas ainda existe um vazio, um buraco na história, e a gente precisa garantir que nenhuma mais seja deixada para fora das prateleiras das livrarias", disse Johanna à UOL.
Localizada no bairro Vila Buarque, próxima ao famoso Minhocão, a livraria também foi criada para ser um espaço tranquilo, de pausa, em contraste ao alvoroço do centro da capital paulista. Por isso, a loja também conta com uma área para eventos, como por exemplo noites de autógrafos, e uma cafeteria, que restringe suas atividades a delivery e take away nos momentos de restrição social. Na mesma entrevista à UOL, a empreendedora disse não temer muito a crise econômica, que para ela seria um momento de resistência dos pequenos negócios:
"Foi um período catastrófico para a economia, mas a gente vê aqui no bairro um movimento de retomada dos pequenos negócios e de fortalecimento das livrarias de rua. Acreditamos que a experiência de comprar em uma livraria de rua é inalcançável: caminhar até lá, estabelecer conexão com o bairro, conversar com as livrarias, ouvir sugestões", declarou.
Em Porto Alegre, uma brincadeira despretensiosa de Alyne Jobim acabou se tornando um negócio sério. Apesar de ter sido lançada apenas em 2020, a Iwosan, loja que confecciona jalecos e scrubs com estampas africanas personalizadas, teve seu "embrião" gerado anos antes. Quando Dhaiany da Silva Soares se formou em medicina, em 2015, Alyne disse à amiga que agora, a mesma, deveria usar um jaleco que contasse a sua história, ao invés da tradicional bata branca "sem graça".
Apesar da brincadeira, Dhaiany não esqueceu a fala da amiga e cinco anos depois, quando comentou em um grupo de médicos na internet, a ideia teve tantos interessados que Dhaiany foi correndo contar a Alyne (e cobrar o presente, é claro). Foi aí que nasceu o primeiro modelo, que teve um resultado muito maior que o esperado: a foto rodou por vários grupos nas redes sociais e, em pouco tempo, a gaúcha já estava cheia de novos pedidos.
Como gerente comercial, Alyne teve sua carreira diretamente afetada pela pandemia, e por isso aproveitou o momento para apostar na transição para o empreendedorismo. Com a ajuda da consultoria da Odabá Associação de Afroempreendedorismo, ela e Dhaiany lançaram a Iwosan oficialmente no final de 2020, que se tornou um dos negócios ganhadores da premiação 'Elas Prosperam' (idealizada pela Visa) no ano seguinte.
Falando em negócios afrocentrados, a Feira Preta é o maior evento de cultura e empreendedorismo negro da América Latina. Com 20 anos de história, o encontro reúne pequenos negócios de moda, música, gastronomia, audiovisual, design, tecnologia e outros - todos pertencentes a empreendedores negros.
Mas, antes mesmo da pandemia, a Feira Preta já estava construindo seu espaço digital: em 2018 se uniu ao Mercado Livre e ganhou sua loja oficial no marketplace da plataforma. Com a parceria, os empreendedores que conquistaram seu espaço digital na loja ainda foram incentivados com descontos nas taxas de uso do marketplace (atualmente em torno de 40%).
A princípio, o objetivo era estender o espaço do evento e tornar permanente a exposição das pequenas marcas, dando maior visibilidade e oportunidade a esses empreendedores. Mas, se a digitalização de negócios já era uma tendência importante na época, no período do coronavírus então se tornou crucial, permitindo que os negócios sofressem menos impactos negativos com as restrições sanitárias.
“Com a loja oficial, damos ainda mais visibilidade, de forma constante, conectando esses empreendedores com nossos mais de 75,9 milhões de usuários na região”, disse Laura Motta, gerente de sustentabilidade do Mercado Livre, em depoimento à Exame.
Agora as duas marcas se unem também para retratar histórias reais dos empreendedores que participam da loja através de uma websérie em cinco episódios, transmitidos via Facebook e YouTube. Atualmente, a loja oficial da Feira Preta no Mercado Livre já conta com mais de 60 empreendedores e 500 produtos de 18 categorias diferentes.
Na linha das parcerias e feiras de empreendedores, a Feira Nacional de Artesanato se juntou ao Sebrae para realizar sua 31ª edição. Embora tenha sido possível realizar a versão presencial na pandemia, o evento também trouxe em paralelo uma versão virtual. Durante os 6 dias de atividades, foram aproximadamente 1500 expositores e 30 mil visitantes, que puderam também ser conferidos pelos visitantes virtualmente, com o espaço podendo ser visualizado em 360º e de forma interativa.
Aprofundando um pouco mais o tema de tecnologia, outro exemplo bastante interessante foi a parceria realizada entre a cantora Doja Cat e a ONG Girls Who Code (em tradução livre, "garotas que fazem códigos"). Tendo como objetivo discutir e reduzir a desigualdade de gênero nas áreas STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática), e fazer com que mais meninas e mulheres se interessem pela programação, a ONG trabalhou com Doja Cat para criar um vídeo codificável. Na versão 'DojaCode' de Woman, o público é convidado a editar trechos de código, resultando em mudanças em tempo real no vídeo.
Desde escolher a cor das unhas da cantora até combinar o céu na tela com seu fuso horário local, os usuários são introduzidos de forma divertida ao CSS, JavaScript e Python. Após o término do vídeo, eles ainda podem compartilhar as cenas que gravaram.
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Neste artigo, você visualizou exemplos relacionados às seguintes tendências:
A coleção completa de tendências 2022-23 está disponível no site de Tendências do Sebrae.