
Quando se fala em abrir um negócio, os primeiros temas que vêm à mente costumam ser vendas, clientes e finanças. Contudo, há um aspecto que, embora muitas vezes fique em segundo plano, é determinante para o sucesso de qualquer empreendimento: a gestão de pessoas. Nas microempresas, em que a estrutura é enxuta e o empreendedor costuma acumular múltiplas funções, organizar as práticas de Recursos Humanos (RH) desde o início pode fazer toda a diferença para garantir sustentabilidade e crescimento.
Gestão de pessoas é o conjunto de ações que envolvem atrair, selecionar, integrar, capacitar, motivar e reter colaboradores. De acordo com Chiavenato (2014), o capital humano é o recurso mais valioso de uma organização, independentemente do seu porte, pois é dele que surgem a inovação, a produtividade e o relacionamento com o cliente. Em grandes empresas, a gestão de pessoas é formalizada em setores estruturados, com profissionais especializados. Já nas microempresas, essa função normalmente fica a cargo do próprio empreendedor ou de um administrador multitarefas. Isso não significa, entretanto, que a área deva ser ignorada. Pelo contrário: ao implantar práticas simples de gestão de pessoas, mesmo negócios pequenos conseguem organizar suas rotinas, reduzir riscos trabalhistas, manter a equipe motivada e transmitir mais profissionalismo.
Ignorar o fator humano pode trazer consequências sérias. Entre os principais problemas enfrentados por microempresas que não organizam sua gestão de pessoas estão:
Segundo dados do Sebrae (2022), a gestão de pessoas é um dos fatores mais críticos para a sobrevivência das micro e pequenas empresas, que representam 99% dos negócios formais no Brasil.
Mesmo sem um RH estruturado, é possível adotar práticas acessíveis e eficazes:
1. Definir funções e responsabilidades
Em equipes pequenas, é comum que os colaboradores assumam várias atividades ao mesmo tempo. Para evitar sobrecarga e conflitos, é essencial mapear funções e deixar claro o que é prioridade. A descrição de cargos, ainda que simples, ajuda a alinhar expectativas e facilita tanto a contratação quanto a avaliação de desempenho (Marras, 2016).
2. Recrutamento e seleção estruturados
Muitos empreendedores contratam “às pressas” e se arrependem depois. Mesmo quando se trata de apenas um funcionário, vale a pena definir critérios: experiência, perfil comportamental e aderência à cultura da empresa. O alinhamento cultural reduz falhas de integração e aumenta as chances de retenção (Chiavenato, 2014).
3. Integração e treinamento
A primeira impressão é decisiva. Ao integrar um novo colaborador, explique como o negócio funciona, quais são seus valores e qual padrão de atendimento é esperado. Pequenos treinamentos práticos no dia a dia, aliados a feedbacks constantes, já aumentam significativamente a qualidade do trabalho (Bohlander; Snell, 2015).
4. Valorização e reconhecimento
Motivação não depende apenas de salário. Elogios, comemoração de conquistas e demonstração de confiança têm grande impacto. Robbins (2017) lembra que o reconhecimento fortalece o engajamento e cria senso de pertencimento, o que é
ainda mais visível em equipes pequenas.
5. Cumprimento da legislação trabalhista
O registro correto dos colaboradores, o pagamento de direitos e o
acompanhamento da jornada de trabalho evitam passivos jurídicos. Um contador pode orientar sobre encargos e obrigações da CLT, garantindo que a empresa esteja em conformidade legal.
6. Construção da cultura organizacional
Mesmo microempresas têm cultura organizacional — o conjunto de valores, crenças e práticas que orientam o comportamento da equipe. Ao estabelecer desde cedo uma cultura clara, o empreendedor atrai colaboradores alinhados e transmite credibilidade aos clientes (Gil, 2019).
7. Retenção de talentos em pequenos negócios
Muitas vezes, microempresas perdem bons colaboradores para empresas maiores. Para reverter esse quadro, é importante oferecer um ambiente humano, flexível e com oportunidades de aprendizado. O desenvolvimento pode vir por meio de conversas de orientação, desafios no trabalho e participação em decisões.
8. Uso de tecnologia acessível
Soluções digitais de baixo custo podem ajudar a organizar tarefas de RH, como controle de ponto, folha de pagamento e comunicação interna. O Sebrae recomenda o uso de ferramentas simples que economizem tempo do empreendedor e deem mais clareza às informações.
Benefícios para o microempreendedor
Ao estruturar minimamente a gestão de pessoas, o empreendedor:
Cuidar de pessoas é cuidardo próprio negócio. Mesmo que os recursos sejam limitados, práticas simples como definir funções, valorizar colaboradores e respeitar a legislação já trazem resultados significativos. A gestão de pessoas não deve ser vista como um luxo exclusivo das grandes organizações, mas como uma ferramenta estratégica indispensável também para microempresas. O empreendedor que investe em sua equipe colhe resultados em motivação, produtividade e fidelização de clientes — fatores que garantem a sobrevivência e a competitividade no mercado.
Referências
BOHLANDER, George; SNELL, Scott. Administração
de Recursos Humanos. 16. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2015.
CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas: o novo papel dos recursos humanos
nas organizações. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.
GIL, Antonio Carlos. Gestão de Pessoas: enfoque nos papéis profissionais.
2. ed. São Paulo: Atlas, 2019.
MARRAS, Jean Pierre. Administração de Recursos Humanos: do operacional ao
estratégico. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
ROBBINS, Stephen P. Comportamento Organizacional. 18. ed. São Paulo:
Pearson, 2017.
SEBRAE. Gestão de Pessoas para Pequenos Negócios. Brasília: Sebrae,
2022. Disponível em: https://www.sebrae.com.br. Acesso em: 26 set.
2025.


