Uma das grandes promessas do mercado financeiro, rondado por várias dúvidas e especulações, o Bitcoin chegou para revolucionar a forma como trabalhamos com o conceito de dinheiro, mas seu funcionamento não é simples e envolve diversas outras áreas, até mesmo a produção de GLP (Gás Liquefeito de Petróleo).
Para explicar isso, vamos voltar alguns anos no tempo. Apesar da fama recente, os primeiros registros de criptomoedas derivam de meados de 2008, onde um usuário com a alcunha de Satoshi Nakamoto publicou em um fórum da época o arquivo Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System.
Desde então, a moeda foi tomando cada vez mais adeptos e também ficando cada vez mais valiosa. Atualmente, apesar da volatilidade bruta e constante, um Bitcoin equivale a US$ 49.995, segundo a última cotação do mercado, feita no dia 30 de agosto de 2021. Este valor convertido em reais fica em, aproximadamente, R$ 243.447,56 quase nada, não?
Entretanto, apesar de ser considerado um investimento, o Bitcoin é uma moeda que, supostamente, deveria realizar a troca de valores entre pessoas que, no presente momento, é uma finalidade para a qual não está sendo muito usado.
Teoricamente, o principal diferencial da criptomoeda é que o dinheiro físico é completamente excluído desta equação, e as transações são realizadas através da blockchain, uma plataforma criptográfica e descentralizada, que organiza e faz funcionar todas estas movimentações.
É justamente esta funcionalidade que preocupa muitas pessoas e governos, pelo fato dela ser autorregulada, ou seja, nenhum governo ou banco supervisiona as operações, o que, teoricamente, pode servir de base para transações ilegais.
O processo de criação das criptomoedas envolve a mineração constante com computadores de ponta, que resolvem algoritmos extremamente complexos, através de programas, e o computador que conseguir resolver primeiro consegue uma fração de moedas, e assim continua sucessivamente, sem parar.
Para termos uma noção do quão potente a rede de Bitcoins é, se colocarmos ela em comparação com os 500 computadores mais rápidos do mundo, os supercomputadores que mineram a criptomoeda ganhariam por uma pequena diferença de 100 mil vezes mais velozes e precisos.
Devido à alta quantidade de energia empregada, com os processadores trabalhando constantemente, estes supercomputadores são colocados em trailers móveis, e suas temperaturas chegam até a 71ºC. Para se ter uma ideia, os mineradores de criptomoedas na Dakota do Norte costumam fugir do frio sentando perto destas máquinas apenas para se manterem aquecidos.
Para que estas máquinas possam funcionar plenamente, muitas empresas de petróleo doam GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) para ser queimado, fornecendo energia para que os supercomputadores possam funcionar em sua capacidade máxima, sem terem de parar, devido à falta de energia.
Esses supercomputadores demandam uma quantidade absurda de energia para que eles possam continuar funcionando em um ritmo acelerado para conseguir competir com as suas concorrentes.
O cálculo de energia necessária para se usar estes supercomputadores é de 31 terrawatts-hora por ano, e, só para termos uma noção de quão expressivo é este número, existem mais de 150 países que consomem menos que essa energia por ano. Só para realizar uma transição, é necessária a eletricidade que nove casas nos Estados Unidos utilizam em apenas um dia.
O grande problema nem está tanto no consumo, mas, sim, na fonte energética usada pelos mineradores. A China, um dos maiores polos de mineradores de criptomoedas do mundo, utiliza o carvão mineral, cujo uso é responsável por 1/4 da energia produzida no país, emitindo 11% de CO2 (dióxido de carbono) na atmosfera grande responsável pelo efeito estufa.
Porém, visando a diminuição de gastos e o impacto ao meio ambiente, diversos mineradores têm migrado para regiões mais frias, principalmente na Islândia, onde foi montada uma central, a Borealis, onde os supercomputadores funcionam e demandam a energia de uma cidade inteira para seu pleno funcionamento.
Um dos grandes motivos pelos quais ocorre esta mudança é por causa do frio congelante do local, onde atinge a casa dos 4ºC, que age como um refrigerador natural para as máquinas que ficam ligadas constantemente, evitando o superaquecimento destes aparelhos, o que acaba sendo um dos principais inimigos dos mineradores atualmente, e quem tem recursos para evitar isso acaba saindo na frente.
Segundo Marcel Mendes da Costa, gerente da Borealis, em entrevista ao jornal El País:
...é uma loucura. Há um ano, só tínhamos esta sala. Agora contamos com três centros e estamos a ponto de abrir outros quatro. O telefone não para de tocar. São investidores pedindo espaço para suas máquinas.