Não podemos prever o futuro, mas podemos criá-lo. Peter Drucker
Um dia desses me bateu uma curiosidade imensa sobre como as empresas estão lidando com a dificuldade de encontrar mão de obra especializada em TI. Resolvi fazer uma enquete aqui no Linkedin e o resultado não poderia ter sido diferente.
Mesmo com um universo muito pequeno de respondentes, mas de considerável relevância por seu papel no mercado, o retorno reflete o que estamos vivendo na prática. Quando 39% dizem que têm um programa próprio de capacitação e 36% fazem outsourcing como remédio para esta situação, entendo que temos um grande desafio nas mãos.
A desproporcionalidade entre a quantidade demandada por profissionais, expressa pelo número de vagas em aberto no mercado, e a falta de mão de obra qualificada ofertada não é um fenômeno novo no país.
Como ressaltou um relatório recente da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), divulgado ainda no início de 2020, antes da pandemia do coronavírus, o gap entre o ideal e o real aumentou e vai aumentar ainda mais nos próximos anos.
A expectativa é que até 2024 a busca por profissionais com habilidades digitais chegará a 70 mil por ano no país, enquanto o número de pessoas formadas nestas mesmas habilidades não deve passar de 46 mil. Segundo esse mesmo relatório, o déficit de profissionais pode chegar a 260 mil até lá.
Ainda não dá pra saber o impacto real da pandemia sobre essas previsões. Mas diante da necessidade urgente de transformação digital, pela qual quase todas as empresas passaram neste último ano, esse déficit pode ser ainda maior a depender do nicho em que a empresa está inserida.
Somente a GeekHunter, empresa de recrutamento especializada em contratação de profissionais em tecnologia da informação, registrou um crescimento de mais de 310% no número de vagas abertas na área de tecnologia em 2020. Enquanto uma outra pesquisa, realizada pela renomada firma de recrutamento multinacional Robert Walters, diz que a procura por desenvolvedores no Brasil disparou 169% ano passado.
De uma forma ou de outra, esses dados podem explicar o motivo de o Brasil estar na posição 59 no ranking global de talentos do índice de competitividade global de 2020, feito pelo Núcleo de Competitividade Global do IMD, escola de negócios da Suíça, em parceria com a Fundação Dom Cabral. Detalhe importante, são 63 países pesquisados. Os primeiros lugares são da Suíça, Dinamarca e Luxemburgo, respectivamente. O Canadá é o 8º, a Alemanha 11º e os Estados Unidos 15º.
Já no ranking de competitividade digital, o Brasil sobe para o 51º lugar. Um pouco mais animador, mas nem tanto assim né. Como os próprios estudiosos sugerem, o Brasil precisa modernizar-se e melhorar a qualidade da infraestrutura tecnológica e logística, melhorar a capacidade de inovação dos negócios, restabelecer a confiança no ambiente (que venhamos e convenhamos não está nada fácil), melhorar o sistema educacional buscando mais qualidade e diminuir a burocracia. Quem lidera essa lista são os Estados Unidos, Cingapura e Dinamarca.
De acordo com especialistas do setor, os perfis mais valorizados e procurados em TI são os desenvolvedores de software que trabalham com Java, Angular e também os que atuam em DevOps. Sabemos que novas tecnologias aparecem constantemente e o reskilling precisa andar no mesmo ritmo. O que não acontece na maioria dos casos.
No fim do dia, essa conta vai parar nas empresas de serviços de tecnologia da informação que precisam de pessoas qualificadas para entregar inovação e a digitalização para empresas de diversos setores da economia brasileira.
Ter programas próprios de desenvolvimento de mão de obra e criar cursos específicos para qualificar mais pessoas podem ser algumas das saídas plausíveis de curto prazo.
Porém, a questão é que não é algo barato e requer cada vez mais parcerias estratégicas entre os fornecedores de tecnologia, instituições de ensino, prestadores de serviços e seus clientes.
Artigo publicado originalmente no linkedin.