Imagine que estamos em dezembro de 2023 e você está avaliando seu ano.
Quase tudo que você imaginou
deu errado. Devido a questões do cenário econômico (Juros e Inflação), questões
do tecido social (sub emprego, problema com inclusão de jovens), problemas políticos
(desafios do governo e inicio da corrida para as prefeituras), problemas
estruturais(carga fiscal e divida publica) e outro menores de impacto local.
Apesar do crescimento do agro, essa riqueza não transborda localmente e a concentração de renda só aumenta. A desilusão e a decepção são enorme, afinal, o esforço foi enorme e o planejamento previa muitas dessas coisas e era muito consistente.
Bom, aí, aconteceu algo milagroso! Você recebeu a graça de poder voltar no tempo e começar de novo o 2023. Acredite ou não eu tive essa chance, e relato abaixo aprendizados para o ano que podem ajudar a fazer diferente dessa vez:
1. Investimento local privado e grandes projetos do Centro Oeste não é sinônimo de desenvolvimento local. As compras para implantar esses investimentos quase sempre são feitas fora do município e assim muito pouco gera emprego e renda localmente, e o que é pior, apenas atrai mais migração e gera mais custos para o serviço publico e problemas sociais nas cidades. Como deveríamos lidar com isso?
2. O PIB brasileiro crescerá muito pouco esse ano, a dívida pública é enorme, mas a arrecadação dos municípios cresceu nos últimos anos. Seja por repasses, seja por investimentos ou por ser uma ilha de algum nicho de mercado. Os prefeitos vão querer trabalhar seu legado e estarão interessados em ações que gerem visibilidade e reforcem seu patrimônio eleitoral. Como conectar ações sustentáveis com ações que gerem bônus políticos?
3. Algumas cidades onde há investimentos, conseguem gerar aumento de negócios localmente. Sobretudo nas pequenas compras e nos gastos do dia a dia. É uma oportunidade que pode gerar faturamento agora, mas como trata-se de uma oportunidade apenas de atendimento regionalizado pontual, quando terminarem as obras, deve haver uma onde de fechamentos, uma vez que essas empresas não investem em melhorias no negócio. Como conciliar faturamento com sustentabilidade dos negócios? Como despertar os empresários?
4. Toda boa ideia, sobretudo de desenvolvimento local, concorre pela atenção dos envolvidos, que no dia a dia, estão quase sempre priorizando a sobrevivência dos seus negócios. Soluções só funcionam se há engajamento e engajamento só rola se for criada a paixão para o assunto. Como criar paixão para um assunto e assim criar engajamento? Não são as ideias, mas os benefícios que criam a paixão!
5. Mais importante do que ter ou atrair um grande investimento, para desenvolvimento regional nos tempos atuais, tempos que combater a EVASAO. Evasão de consumo, evasão de mão de obra, evasão de fornecedores. Como esta e como reduzir os diversos pilares da evasão no município?
6. Na maior parte das cidades, pelo Brasil, o desemprego é apontado como maior problema. Junto com isso vem a dificuldade das empresas em conseguir mão de obra. Nas estatísticas verifica-se uma queda do desemprego, mas tudo leva a crer que isso aconteceu pelo aumento do empreendedorismo por necessidade (MEIs) e que a maior parte está obtendo uma rendo menor do que recebia antes (maior fragilidade da renda). Como fazer para motivar para capacitação? Como fazer para melhorar a renda dos MEIs e assim equilibrar o tecido social?
7. A entrada dos jovens no mercado de trabalho foi muito prejudicada no pós-covid. Além de conviver com o baixo astral pelos 2 anos perdidos, além da fraqueza emocional causada pelas mídias sociais, além da frustração com a escola devido a concorrência com o Google, esse conflito entre pouco emprego x muitos sonhos pode comprometer o futuro da cidade. Como criar oportunidades e incluir o jovem no mercado?
8. Os municípios são organismos vivos, e tem uma dinâmica local própria além de interagir também com os territórios. Você não resolve os problemas de um município sem ver as interações dentro do território, assim como, usar a força do território pode ajudar a resolver questões do município. Como motivar para conexões e parcerias dentro do território, tano na esfera publica como na esfera privada? Como gerar aproximações comerciais?
9. Políticas sociais não podem se restringir a oferecer atendimentos, mas devem também ser avaliadas pelo volume de pessoas que conseguem sair do assistencialismo. Que ações serão feitas para ajudar as pessoas a recuperar sua autonomia e sustentabilidade econômica?
10. Ainda que o turismo seja uma área promissora e oportuna, quase sempre ela esta associada a investimentos que são difíceis de viabilizar. Contudo, o lazer é um tema crescente e pode gerar tanto novo negocios, novos serviços, renda e diversas oportunidades. Olhar o lazer local e regional são portas que podem responder muitas das perguntas anteriores(inclusive empreendedorismo feminino).
11. Sustentabilidade importa! A imagem dos ecochatos marcou esse segmento e por isso deixamos de pensar em coisas como destinação/processamento/reaproveitamento do lixo, ações para redução de consumo de luz e agua, criação de espaços comunitários e espaços inclusivos. Como temperar o plano com ações que visem o bem-estar social?
12. A autoestima do cidadão conecta a população aos projetos da cidade. Trabalhar a identidade cultural é um bom caminho para fazer com que a comunidade participe e se engaje em projetos de desenvolvimento local. Você prepara e tem essas ações no seu plano?
13. A gestão pública importa (é claro ne?). Sua melhoria profissional deve constar no plano. Há diversos casos de benchmarking acontecendo pelo país e buscar as melhores práticas que já estão sendo feitas é o caminho mais rápido para esse transbordamento. Defina o que/como mostrar essas boas práticas a equipe executiva da prefeitura e a câmara municipal. Identifique primeiro aliados e saiba preparar melhor o assunto para garantir o apoio necessário!
14. A intervenção territorial precisa ser integrada e coordenada, para que as agências de desenvolvimento alcancem seu objetivo. Em geral isso é muito fácil no papel, mas muito pouco efetivo na vida real. Sem ambiência não haverá transformação!
15. Ainda que todo plano parta de um foco, tratar os diferentes de modo igual é a receita para o fracasso. A maturidade de gestão e de governança do município deve ser avaliada e temos que trabalhar com pacotes diferentes para níveis diferentes de maturidade. Todo mundo sabe disso, mas não pratica a execução tem muito pouco de diferentes.
16. Lutando contra mantas. Aqui na cidade isso não funciona. A entrega deve ser algo que mude e seja percebido pela comunidade. Não se faz mudanças estruturais se não construirmos o engajamento. O engajamento sempre cairá, assim, sempre precisa ser rei incentivado.
17. Essa ajuda precisa ser institucionalizada localmente, para que o caminho da transformação seja duradouro e a comunicação do plano precisa ir além das ações, considerando sempre a construção da percepção, para gerar engajamento e então conseguir o comprometimento!
Augusto Aki
Consultor Sebrae CIDADES EMPREEDEDORAS
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