Já temos como certo hoje que a crise deflagrada pela pandemia da COVID-19 em nosso mercado de Foodservice tem dimensões inéditas e enormes, impactando ao mesmo tempo o tamanho do mercado e o número de empresas e pessoas atuantes nele.
A queda do mercado em 2020 certamente será superior a 25% comparado a 2019; se as coisas avançarem da melhor forma possível no 2º semestre, poderemos chegar num dezembro na casa de 90% do dezembro de 2019 e sonhar com um 2021 quase voltando ao 2019.
Estima-se que 20% dos estabelecimentos ativos em fevereiro de 2020 já fecharam suas portas em definitivo e pode haver mais 10 ou 20% que fiquem pelo meio do caminho.
Fruto disso e de toda a consequente dificuldade de lidar com a crise de caixa e liquidez, um milhão de empregos já se foi e o número deverá crescer até o 2º semestre, em que pese um conjunto razoável de medidas trabalhistas ter sido lançado.
Queria neste artigo falar um pouco sobre este período tão especial, não apenas abordando seu lado negativo, mas também trazendo reflexão sobre o que ele pode deixar de positivo, à medida que o tempo avance.
Apesar de ser bem clichê falar isso, mas a gravidade e dificuldade da crise promove uma Seleção Natural, no melhor conceito de Charles Darwin: ou seja: os que tiverem a maior capacidade de sobrevivência e adaptação não só permanecem no mercado, mas também são os que deverão se reproduzir, se expandir.
E, neste contexto, de alguma forma, o que vivemos neste ciclo promove uma certa melhoria da espécie, eliminando estabelecimentos que já não tinham condição de competição e existência em pé de igualdade com os demais.
Infelizmente, junto com eles, muitos estabelecimentos melhores também desaparecem, por causas como as mudanças violentas e repentinas dos hábitos e atitudes dos consumidores, impossibilidade de operar, etc. De alguma forma, o que apelidamos como morte dos inocentes.
Mas, em meio a este quadro, há uma leitura positiva para os sobreviventes: provavelmente, a retração do número de competidores será igual ou maior do que a própria queda do mercado.
Se esta expectativa se confirmar, haverá um potencial espaço maior para cada sobrevivente do que o que ele tinha antes da crise.
O tal jogo de rouba-monte, sobre o qual falamos nos últimos anos, acontecerá de forma forçada algumas ou muitas empresas remanescentes terão uma fatia do bolo maior do que tinham antes desta depressão, o que poderá ser suficiente para prosperarem futuro afora.
Para que isso ocorra, são e serão necessárias 2 capacidades complementares: capacidade de sobreviver de forma sustentável e consciente e capacidade de compreender e se adaptar à nova dinâmica do mercado e do consumo, para ampliar suas participações e seus negócios.
Fácil e indolor não será, mas há boas perspectivas para quem conseguir atravessar a tormenta.
Este texto foi escrito especialmente para esta comunidade por Sérgio Molinari, um dos maiores consultores de Food Service do Brasil.