Em minha pesquisa de pós-doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tive o prazer de conhecer a organização da vida pessoal e do trabalho de aproximadamente cinquenta microempreendedores individuais do Rio Grande do Sul e de Sergipe.
Durante um ano, estive envolvido com um trabalho científico qualitativo, inspirado na etnografia e convivi com jovens espalhados em trinta e três cidades, com características, matrizes econômicas, formações culturais e sociais bem diferentes, mas no geral, observei algumas características comuns entre esses jovens empreendedores que possuem entre 18 e 40 anos de idade e muita vontade de melhorar de vida.
Embora correndo o risco de generalizar, irei traçar um perfil médio dos jovens investigados, eles têm no geral o nível educacional médio completo, são homens e mulheres com união estável, a maioria com filhos pequenos, não tiveram nenhum apoio financeiro formal para a abertura das suas empresas e associam empreendedorismo com liberdade e possibilidade de ganhos financeiro mais altos.
Esses jovens iniciam suas operações da maneira mais errada possível, pois mesmo com a possibilidade de apoio das Universidades ou do Sebrae e com uma infinidade de cursos e textos disponíveis gratuitamente na internet, não criam planos de negócios ou pelo menos um Canvas para suas operações.
Os jovens investigados não seguem um planejamento, mesmo que rudimentar, para a gestão dos seus negócios. Não possuem um propósito definido, não tem missão e visão ou valores definidos e muito menos indicadores reais das suas empresas. Atribuem a falta de planejamento, a turbulência da vida empresarial, pois necessitam cuidar da produção e de questões burocráticas e não tem tempo para pensarem no futuro das suas organizações.
Alguns conhecem e já usaram softwares para auxiliar no planejamento e/ou organização, mas acabam se desmotivando pela complexidade desses sistemas e não demonstram muito interesse em testar outras alternativas.
A experiência de campo, provou que os jovens empreendedores possuem o sonho de desenvolvimento das suas cidades, o ato de empreender é, simbolicamente, uma atitude de fincar raízes na localidade, mas a falta de organização, gera uma série de problemas e dificulta a realização desse sonho.
Os jovens empreendedores no geral não possuem banco de dados e não mantém um relacionamento eficiente com seus clientes, não criam estratégias para prospectar novos mercados, não mensuram os seus resultados, não controlam suas entradas e saídas financeiras e não conseguem desenhar com nitidez suas operações.
A falta de organização gera ansiedade, aumenta as horas trabalhadas, diminui a qualidade dos produtos e serviços, afugenta os clientes e impede o crescimento das empresas.
Em linhas gerais, temos dois problemas, de um lado os jovens microempreendedores necessitam de uma organização mais eficiente, e ao mesmo tempo é necessário criarmos ferramentas para auxiliar esses indivíduos fundamentais para o crescimento de um país.
Matheus Pereira Mattos Felizola
Consultor do SEBRAE - SE
Pós-Doutor pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul com apoio do CNPQ
Professor da Universidade Federal de Sergipe
Líder do Laboratório de Empreendedorismo e Inovação da UFS